Marina Silva durante debate em São Paulo. Fotos: Ivan Gomes |
Rede sustentabilidade debate com partido De La Red argentino sobre nova
maneira de fazer política
Marina Silva, candidata a presidente da República em 2010 e
2014 e uma das militantes na criação da Rede Sustentabilidade, participou de
debate público realizado na noite de quinta-feira (23), no Centro Cultural de
São Paulo. Em pauta, a discussão “Democracia e Internet”. O debate foi mediado
pelo jornalista Milton Jung e teve participação do jovem argentino Santiago
Siri, co-fundador do partido De La Red.
Durante o debate, Siri falou sobre a criação do partido na
Argentina e de como a tecnologia tem contribuído para divulgação das ideias. “O
partido De La Red é recente [2013] e diferente de tudo que temos na Argentina. Ele
surge da necessidade de se buscar e consolidar as ideias e anseios dos
indignados através de um SOFTWARE – o Democracy OS [http://democracyos.org] capaz
de impactar o sistema político. Após dois anos de sua criação, já participamos
do debate político em várias cidades e províncias. Nosso software é livre e
usado mesmo na França, México, Espanha, Chile, Índia, Ucrânia. Nossos
candidatos se comprometem a lutar pelas decisões definidas por esta ferramenta
e não em projetos pessoais”, comentou.
Marina, em sua fala, citou várias vezes a necessidade de
“democratizar a democracia”. “Nosso sistema está estagnado na polarização
simplista de uma ilusória dualidade. Querem dividir a sociedade entre ‘esquerda
e direita’, da mesma forma como pensamos o quente e frio ou o claro e escuro. Nossa
realidade local e nacional, sem dúvida, tem tudo a ver com a crise mundial.
Vivemos uma profunda crise civilizatória, onde cinco temas conflitam nossa
sobrevivência: a crise econômica, a social, a de valores [ética], a política e
a mais grave, a crise ambiental”, apontou.
Ela falou também sobre a mudança que a sociedade necessita. “Precisamos
de um novo ativismo, um ativismo autoral e não o dirigido por lideranças
pessoais passageiras. Estamos no fim da era do poder pelo poder, do lucro
estagnado. A crise das lideranças políticas e partidárias ocorrem devido ao
surgimento de um novo sujeito político ativo. A política não pode ser só mais
do mesmo, da visão autoritária e rígida. Esta forma inadequada de ser não dá conta
dos 90% de indignados, precisamos ser protagonistas!”, afirmou Marina.
A militante política também falou que imprensa alavancou o
pensamento político no século 18 e sobre a internet. Ela [internet] está sendo
uma ferramenta indispensável no processo de mudança. No entanto o uso da
tecnologia não pode transformar o cidadão indignado num ‘voyeur da cidadania’
que usa o Facebook como válvula de escape. A tecnologia pode fazer as pessoas
participarem e serem transformadoras, cidadãos praticantes”, completa Marina.
Ari Hauck com Marina Silva: ambos militantes para criação da Rede Sustentabilidade |
A ex-presidenciável falou também sobre a criação da Rede
Sustentabilidade que deve ser liberada no início de agosto e ser um caminho
para futuras mudanças. “Não somos a resposta pronta para atual crise, mas debatemos
conjuntamente um caminho para a transição. Precisamos todos entender também que
a ‘democracia é uma ideia imperfeita para um mundo imperfeito’”, argumentou. “Uma
nova maneira de pensar a política é necessária para este momento”.
ARI HAUCK
Militando na criação da Rede Sustentabilidade desde 2010, o
vice-prefeito de Itatiba, Ari Hauck, o dr. Ari (sem partido) acompanhou
atentamente o debate. Ele falou de sua impressão sobre as ideias apresentadas.
Blog: Qual sua opinião sobre o
debate?
Dr. Ari Hauck: Estamos
vendo a indignação tomar conta dos eleitores e ao mesmo tempo uma total
indiferença do sistema político, como se os políticos, mesmo nossos vereadores,
vivessem em outro planeta. E compreensivamente vemos um esgotamento da
participação social. As pessoas não têm tempo de saírem de si mesmas, seus
problemas e inseguranças são imensos. Muitos perdem a esperança num mundo
melhor. No entanto a indignação e o desejo do mais e melhor são irresistíveis. O
debate mostrou que estes fatos não ocorrem apenas no Brasil. O mundo todo vive
uma crise civilizatória, uma crise ética, como diz Marina Silva.
BO: debate trouxe algo novo?
AH: Sem dúvida, só o fato de vermos estes jovens na
Argentina traçarem seu próprio partido sem caciques e curiosamente com o mesmo
nome Rede, já aponta para novas oportunidades. No sábado também participei do debate
‘Brasil em crise’ do PSOL onde
Luciana Genro propõem uma união de partidos e movimentos contra o retorno à barbárie
da ‘bancada medievalista’. Existe um consenso de que a crise econômica
internacional deve ser superada mantendo-se os privilégios do grande capital às
custas da flexibilização dos direitos sociais. A este esquema o PT [Partido dos
Trabalhadores] se subordinou através do ajuste econômico [para as classes média
e baixa]. Mas é um grande equívoco centrar toda a culpa no PT e deixar o PMDB e
o PSDB à vontade. Todos os culpados devem pagar por seus crimes, sejam de qual
partido forem.
Dr. Ari anota principais temas durante debate |
B: Como o senhor vê o uso da
tecnologia para fazer política?
AH: Da mesma forma que a imprensa
impulsionou as mudanças políticas no século 18, a Internet se apresenta como
uma nova ferramenta de informação e de conscientização. A dúvida é se o
voyeurismo do ‘face’ vai se transformar em ativismo cidadão.
B: O que o senhor pensa sobre a ideia
de Marina em “democratizar a democracia”?
AH: É comum as bandeiras de justiça e igualdade
de direitos serem desfraldadas por oportunistas. Até os golpistas de 64 se diziam
defender a democracia. Acho que temos que deixar claro o que queremos. Para
isso é importante buscar novos caminhos de participação com responsabilidade
social. Democratizar para uma melhor qualidade de vida e oportunidades para
todos.